Brasil é berçário e asilo do Futebol

Por Fernando Torres (texto e foto)

“Sonho em encerrar a carreira no...” é um início de frase comum no glossário boleiro neste início de século. Basta colocar a mãozinha para fora do cercadinho. Dá um tapa no clube formador aos 17 anos, ainda bebê na escala de vida, e promete fidelidade eterna. Pura conversa fiada. Os empresários, assessores e o atleta ganham milhões, mas o torcedor fica na mão, acreditando nas juras de amor despejadas em um tom alegre e mentiroso. “O que vou falar? Vou ficar milionário e vocês ficam na furada? Preciso dizer que amo a camisa e prometer uma volta, mesmo que improvável”, ressalta o novo rico à própria consciência. “Quando será este retorno?”, perguntam os torcedores. “Quando ele ficar velho, correr pouco e ninguém mais o quiser”, responde o dirigente.


As discutidas negociações entre Edmundo e Vasco, Dodô e Fluminense, Ronaldo e Flamengo, Gallardo e Altético-MG, entre outras, são bravatas de maus administradores e aproveitadores da carência das torcidas apaixonadas. Voltam os cansados, enquanto vão embora, no fervor da forma, Alexandre Pato, Kaká, Juninho Pernambucano, Fred, Luís Fabiano, Júlio César, Cicinho, Breno. Outros estão a caminho. Morais, Renato Augusto, Alex Teixeira e Thiago Silva são alguns deles. O Futebol brasileiro vende o embrião, empregando mal este dinheiro, na maioria das vezes, e compra a carne passada, a pelanca rejeitada pelos grandes compradores.


Há, como em toda regra, exceções para este cenário. Não. O exemplo não é Adriano. O Imperador só ficou no São Paulo para uma rápida recuperação da auto-estima. Abre mão da farra, marca gols importantes e, na gíria das ruas, “mete o pé e vaza pra Zoropa”. O caso raro é o argentino Riquelme. Atuou pela Barcelona, sem sucesso, levou o modesto Villarreal ao cenário mundial com bons resultados no Campeonato Espanhol e na Liga dos Campeões da Europa e... foi para Milan ou Real Madri? Nada disso. Voltou ao Boca Juniors valorizado e com vaga cativa na Seleção Argentina, atual líder do ranking da Fifa. Ganhou a Copa Libertadores de 2007, passou breve temporada na Espanha e retornou a La Bombonera. Está no melhor momento da carreira e atua pelo clube do coração. Situação presente apenas nos sonhos dos fanáticos brasileiros.