Milhares de pessoas em silêncio. A revolta gritava, mas o som insistia em ficar preso no vácuo da garganta rubro-negra. Centenas de carros emparelhados formavam a maior carreata fúnebre do Rio de Janeiro, no século XXI.
O tráfego parecia não incomodar os motoristas. Nada de buzinas. Acelerações brandas ditavam o melancólico ritmo do trânsito tijucano. Os longos metros da Rua São Francisco Xavier serviam para alongar a reflexão quanto ao holocausto ocorrido minutos antes. Das arquibancadas e cadeiras do Maracanã partia o cortejo a entrar pelas ruas Isidro de Figueiredo e Jaceguai.
A Praça Varnhagem não enxergava comemorações. Só o lamento cresceu de seus canteiros. A tragédia de 58 anos atrás inspirou os adversários. Saem os uruguaios e festejam os mexicanos. Em 1950, chorou o país. Ontem, derramou-se uma de suas nações. A mais numerosa delas. Tão grande quanto o desastre.
Saio a comprar algo para comer e beber. A meia-noite já é passado. Os bares estão fechados. Somente na loja de conveniência de um posto de gasolina, na esquina da Avenida Maracanã com a São Francisco Xavier, ouço discussões acaloradas o bastante para suscitar olhares.
Em quatro dias, a torre Souza se transformou em pó-de-mico. Joel foi de papai a madrasta. Obina? O Xodó, agora, é bonde. Juan era rápido e habilidoso. Nos protestos à beira do caixa, é despreparado e imprudente. Até o chororô ganhou novas faces. A muralha Bruno precisará do apoio de Diguinho e Túlio. O lenço será compartilhado.
Os times vestem camisas distintas. Neste gramado das lamentações, em uma hora berra o Botafogo. Noutra, o América do México. Nestas últimas, o Flamengo. A mistura de idiomas revela a importância da vitória. E da derrota. O tombo foi grande. Machucou, calou e superou os autodenominados insuperáveis.
Imagem: Montagem de Fernando Torres com fotos de Club América do México e Notimex