Marcelo Rezende
Fonte: Revista Placar, 01 de Junho de 1984.
Ele fugiu da festa para ouvir sozinho seu desabafo de campeão. Agora, pode deixar novamente o Brasil para treinar um time árabe.
A alegria tricolor explode em abraços, beijos, risos e lágrimas no Maracanã. A torcida invade o campo e persegue, um a um, seus ídolos e heróis para comemorar, com eles, o segundo título de campeão brasileiro do Fluminense. Mas há um ausente. No mesmo instante em que começa a festa, o técnico Carlos Alberto Parreira foge, em desabalada corrida, para o vestiário. Lá, sozinho, tem uma crise nervosa. Quer chorar, o choro não sai. Passa a mão na cabeça sem parar. Tira do corpo a camisa branca, dá um murro ma parede, gira o corpo quatro vezes, senta e levanta sete vezes em menos de 1 minuto. O canto de vitória da torcida chega de longe, como uma espécie de fundo musical para a emoção solitária de Parreira. Na sala de frios azulejos brancos, um único ruído: finalmente, Parreira solta o choro. Lá fora, milhares choram de alegria. Aqui, diante do roupeiro, que respeitosamente se coloca à distância, Parreira desabafa.
Jogadores, companheiros de comissão técnica e torcedores demoram um pouco para perceber a ausência do técnico campeão na festa. E, no entanto, esta ausência pode tornar-se definitiva durante esta semana. Mais tarde, ainda no vestiário, já refeito da emoção, Parreira confidenciava: "Estou muito feliz, mas talvez não possa continuar aqui. Na próxima semana os árabes me farão uma proposta e, se for muito, muito dinheiro, novamente deixarei o Brasil rumo aos Emirados Árabes. Mas desta vez, irei como o técnico n.º 1 do Brasil." Então já recebera os abraços e tapinhas que nunca faltam num vestiário de campeão. E já explicara a emoção: "Desde que deixei a Seleção, passei dois meses ouvindo críticas injustas e mantive o equilíbrio. Descarreguei hoje dois meses de angústia e frustração. É a décima partida em que comando o Fluminense e estamos invictos. Chorei de emoção por poder responder com trabalho aos que me chamam de teórico e defensivista."
Por isso Parreira fugira de festa. E, por isso, só começou a ficar tranqüilo quando, 11 minutos depois de entrar sozinho no vestiário, chegou o seu preparador físico Admildo Chirol, seu companheiro na Seleção, com ele demitido há exatos dois meses, no dia 27 de março. "Vamos, Parreira. Todos querem te abraçar. A festa é sua, nós vencemos." , diz Chirol. Parreira tira a mão do companheiro da sua cabeça e responde, entre soluços: "Quero ficar sozinho."
Ainda se passam 20 minutos para que ele se acalme de vez e receba o abraço de Romerito. Saúda o craque paraguaio: "Don Romero, tú eres campeón de Brasil!" Romerito grita, aos pulos: "Eres tú el campeón, tú venciste a todos!" Chega Arnaldo Santiago, o médico, também companheiro da Seleção: "Parreira, você calou a boca de todos." O técnico responde com um abraço forte e um desabafo: "Deus não poderia deixar passar em branco tanta injustiça. Ele me deu este presente."
Maior emoção só existe quando Delei chega ao vestiário e chora nos braços de Parreira: "Professor, nós dedicamos este título ao senhor, que soube nos comandar, deu força e personalidade ao nosso time." .
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